quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A Falência da Educação Ambiental (Segundo Um Educador Ambiental Falido)

por ricrib.

Parece um pouco radical falar em falência da educação ambiental.
Surgida na década de 70 como uma nova visão na formação da sociedade para o desenvolvimento sustentável, foi idealizada como ferramenta indispensável para a implantação de um novo paradigma.

Das grandes conferências internacionais aos pequenos movimentos de bairro, o meio ambiente era assunto extremamente tratado nas rodas de conversas dos seres humanos. Antes do fim do mundo, na virada do século, livros, filmes, documentários, séries de TV , jornais e revistas tratavam a resolução dos problemas ambientais como o novo desafio da humanidade. Surgiram propostas para inclusão do tema no currículo escolar, como também de reformulação teórica da educação em si em seus pressupostos mais básicos ( afinal de contas, toda educação é ambiental, não é mesmo?)

Mas qual impacto que esse movimento de final de século causou na forma de interação do ser humano com seu meio? Qual tipo de consciência se sobrepôs aos modelos econômicos destrutivos utilizados até então?

Assistimos, recentemente no congresso brasileiro, um triste exemplo de como as questões ambientais se tornaram moeda de troca em disputas políticas de poder, e demonstrações ainda mais tristes de que o modelo desenvolvimentista está de novo de vento em popa, devido ao novo quase milagre econômico e a ascensão das classes D e C ao status de classe média.

Com a falência de regimes comunistas por todo o globo, parece que a sociedade de consumo se estabeleceu de vez como com base para a felicidade suprema da humanidade. Da mesma forma, a questão ambiental de repente se resumiu a ações de markerting empresarial para atrair consumidores para produtos ambientalmente saudáveis.

Estamos realmente assumindo nosso papel de consumidores planetários, e o conceito de cidadão ficou relegado aos discursos mais retrógrados como elemento discriminatório entre humanos que consomem e os que querem consumir.

Não nego aqui meu papel de consumidor. Mas ao colocar esse fator no topo das preocupações humanas esquecemos do valor da arte, da cultura, do pensamento, e até da ciência como construção de uma sociedade.

Vivemos assim a sociedade da demanda.
O fim do séc. XX nos mostrou efetivamente os impactos ambientais e suas consequências para o equilíbrio do planeta. Nos deu a chance de vislumbrar uma nova forma de viver, integrando o espiritual e o ambiental na vida diária, promovendo a volta do sagrado à natureza e revalorizando conceitos como integração, cooperação, altruísmo, respeito, diversidade.

No início do século XXI, à beira do colapso dos sistemas ambientais, voltamos a ter uma visão utilitarista e econômica da natureza, classificando-a como recursos, serviços, commodities e por aí vai. Claro, são subterfúgios importantíssimos para colocar a pauta ambiental dentro do contexto político-econômico-cultural – tanto quanto perfumes da Amazônia e roupas de garrafa pet em grandes desfiles de modas funcionam como balizas da sustentabilidade.

Este texto não tem a prepotência de querer avaliar o estado da arte da educação ambiental no mundo, nem de estabelecer diretrizes e parâmetros para o seu desenvolvimento. É apenas e simplesmente o relato apaixonado de um educador ambiental falido, que tem compartilhado com outros suas frustrações e angústias, e tem tentado reestabelecer para si mesmo as bases para e a retomada de sua participação em um desenvolvimento sadio da humanidade.

Definitivamente, muitos não concordarão com as afirmações apresentadas.

Tudo bem.

Do mesmo modo, não há vontade nenhuma de estabelecer uma verdade, contradizer um modelo educacional ou desvalorizar seus representantes. Pelo contrário. Ainda considero a educação ambiental como uns dos principais valores sociais e culturais para este novo século. Mas, como frequentemente acontece com as novidades no mundo de hoje, esta se tornou ultrapassada no contexto produtivista e eficiente das sociedades modernas.

Acordamos do sonho de uma utopia de valores ambientais sobre uma aldeia global interligada e consciente é vivemos a realidade pragmática da grande metrópole planetária, de indivíduos alienados e solitários, cada um na sua busca pessoal pela sobrevivência cultural e econômica de sua história.

Mesmo estas palavras se parecem mais um manifesto desconexo de uma mente conturbada (que, se analisado com o mesmo pragmatismo serve apenas como devaneio sem sentido) do que com um texto realmente válido para a discussão ambiental atual.
Existe discussão ambiental atual?

E este educador ambiental, descontextualizado e triste, parece de malas prontas para deixar a cidade começar de novo em outro lugar.
Infelizmente, não há lugar para ir.

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